Atingidos pela Copel
Camilla Hoshino, de Londrina (PR) e Pedro Carrano e Davi Macedo, de Curitiba (PR) do Brasil de Fato A Companhia Paranaense de Energia é alvo de críticas por parte de moradores que se […]
Publicado 13/12/2013
Camilla Hoshino, de Londrina (PR) e Pedro Carrano e Davi Macedo, de Curitiba (PR)
do Brasil de Fato
A Companhia Paranaense de Energia é alvo de críticas por parte de moradores que se sentem prejudicados pela construção de uma rede de alta tensão na cidade de Londrina. Desde junho de 2013 a Copel constrói a Subestação Jardim Canadá, no bairro Jardim Presidente, e suas respectivas Linhas de Transmissão (LT) de alta tensão (138kV) que passam por áreas residenciais da cidade.
Localizada a menos de 50 metros de uma faculdade, ao lado de um bar freqüentado e em frente ao Lago Igapó III, ponto turístico de grande circulação de pessoas, a construção tem o objetivo de conectar outras duas subestações, dos Jardins Igapó e Bandeirantes.
Essa é apenas uma das reclamações do povo no Paraná contra a companhia pública de energia. A lista já envolve desde atingidos por barragens, cuja empresa é acionista da Usina Hidrelétrica do Baixo Iguaçu, região Oeste do estado, passando pela crítica de sindicatos aos leilões de gás de xisto no Paraná, com grave risco ambiental (veja abaixo). Em comum entre essas diferentes situações está a falta de diálogo da companhia com a comunidade.
A Copel não cumpre o papel de empresa pública, mas sim de uma empresa com a gestão voltada para os interesses de mercado. Não é à toa a participação acionária em projetos onde não está presente o diálogo com a comunidade, o interesse público e a qualidade de vida do povo, avalia Rodrigo Zancanaro, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), da região Sudoeste do Paraná.
Na mesa de negociações
No dia 20 de novembro de 2013, cerca de 200 pessoas partiram das regiões Sudoeste e Oeste do Paraná para protestar em frente à sede da Copel, em Curitiba. Elas reivindicam o direito de mil famílias atingidas pelo projeto da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu.
A crítica de agricultores e ribeirinhos deve-se ao fato de que não há política de reassentamento. Até aquele momento, a falta de diálogo era um fato e a construção no canteiro de obras está em pleno andamento.
O consórcio responsável pela gestão da usina, chamado Geração Céu Azul, é formado pela corporação Neoenergia e pela Copel, que detém 30% de participação no empreendimento. A Neoenergia, por sua vez, é formada pelo Fundo de Pensão Previ do Banco do Brasil e, majoritariamente, pela multinacional Iberdrola, com sede na Espanha. Em meio a essa composição, a participação da Copel na mesa de negociações da situação dos atingidos era uma das exigências do movimento, conquistada com o protesto.
“Superpostes” devem afetar bairro em Londrina
Camilla Hoshino, de Londrina (PR)
do Brasil de Fato
A instalação dos chamados superpostes (que apresentam diâmetro acima dos postes normais) causou polêmica em diversos locais de Londrina. As primeiras críticas foram feitas pelos moradores da região Gleba Palhano, local em ampla expansão de empreendimentos imobiliários, onde conseguiram suspender a implantação da rede. Outros bairros, como Jardim Presidente, Igapó, Maringá e Itamaraty, por onde passa o trajeto dos superpostes, também se mobilizaram contra as obras, mas não obtiveram sucesso.
Nesta ocasião, a Copel conseguiu uma antecipação de tutela dada pelo juiz Marco José Vieira, da 1ª Vara da Fazenda Pública em Londrina, para que não houvesse interrupção dos trabalhos em andamento. De acordo com a assessoria de imprensa da Copel, avaliando que a companhia havia demonstrado estar autorizada a realizar a construção, a decisão judicial estabeleceu uma multa de R$ 1.000 pelo crime de desobediência para cada pessoa que tentasse impedir a continuidade das obras.
A ênfase da mídia local dada à multa e às ações judiciais solicitadas pela Copel contra duas moradoras do bairro fizeram com que muitos moradores parassem de protestar com medo de que, estando em desacordo com o projeto da Copel, estivessem também em desacordo com a lei. Não tem nenhum morador que não se sinta enganado, desrespeitado.
Na Gleba Palhano, eles conseguiram mudar o traçado dos superpostes, mas aqui ninguém pode conseguir nada, nem um cabo subterrâneo ou tirar a subestação. Só porque somos classe média para baixo?, questiona Márcia Regina Galles Cunha, moradora do Jardim Presidente. Conscientes da necessidade de recorrer à via judicial, os moradores começaram a se mobilizar para exigir explicações e mais transparência por parte da Copel.
Reclamações apontadas
As reclamações dos moradores, identificadas e explicitadas em especial nos documentos encaminhados à Prefeitura de Londrina e ao Ministério Público Estadual, dizem respeito à falta de informações suficientes que justifiquem o empreendimento da Copel no local em que está sendo construído.
Nestes documentos, segundo os quais as informações apresentadas pela companhia até então seriam vagas e imprecisas, há um amplo questionamento acerca dos alvarás de construção da subestação Jardim Canáda e Jardim Presidente e das linhas de transmissão. O advogado Aneron Luiz de Oliveira, morador do Jardim Presidente e crítico do empreendimento, afirma que a construção da subestação Jardim Canadá e dos superpostes apresenta irregularidades.
No traçado das LT de alta tensão pelas calçadas de ruas residenciais os superpostes foram fincados a menos de dois metros das residências, prejudicando o direito à acessibilidade por se caracterizar como obstáculo ao tráfego de pedestres.
A passagem da Rede de Transmissão de Alta Tensão pelo aterro do Lago Igapó também inviabiliza o local para a prática de alguns esportes ou atividades de lazer. É uma área que tem gente correndo, estudantes passando, crianças soltando pipa, onde há o bar Valentino, muito frequentado. Não há justifi cativa para uma obra dessas no local, reclama Márcia Regina Galles Cunha.
No primeiro Pedido de Providência encaminhado ao prefeito da cidade Alexandre Lopes Kireeff (PSD), no início de julho, os moradores exigiram, orientados pelo Estatuto da Cidade, um Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV), necessário para obter licenças e autorizações de construção de empreendimentos e atividades privadas e públicas em área urbana, e que estes fossem divulgados para a consulta de qualquer interessado.
Mobilização dos moradores
Em maio de 2011, a Copel convocou uma reunião técnico-administrativa, da qual participaram 21 pessoas do bairro Jardim Presidente, na Capela São Domingo Sávio.
De acordo com o relato dos moradores, a exposição sobre o projeto da subestação foi feita pelos próprios técnicos da empresa, sem a presença de técnicos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), a quem compete o processo de Licenciamento Ambiental de LT (superpostes) ou de outro órgão regulador do município.
Tal reunião, que não tem caráter de audiência pública ou de um debate honesto com a população, foi usada pela Copel para produzir mais uma legitimidade dúbia, ignorando, desde o início, as dúvidas e manifestações contrárias dos cidadãos de Londrina a esse projeto, declaram os moradores em representação encaminhada ao Ministério Público Estadual.
Após serem surpreendidos pelo início do levantamento dos superpostes, os moradores da região protocolaram um pedido de providência na prefeitura, anexando um abaixo-assinado com cerca de 700 assinaturas pedindo a remoção da subestação e das respectivas LT. O documento também pedia a revisão dos estudos para a constatação de possíveis irregularidades nas obras. Após diversas cobranças e manifestações, a Copel marcou uma reunião com o secretário de obras, o prefeito e os moradores.
Dali saíram sugestões e a promessa de revisar os atos administrativos para verificar desacordos com a lei, conta a professora Valdicéia Frei, que desde o início esteve mobilizada contra a construção. Em agosto, a Copel se reuniu com o bairro para fornecer informações técnicas, mas os moradores estavam convictos de que as obras iriam prejudicá-los.
Não é isso que queremos, não adianta mostrar maquete e nos convencer de que isso é um bom negócio. Somos contrários porque os superpostes agridem o direito de locomoção das pessoas, acessibilidade e está atingindo um patrimônio cultural e paisagístico da cidade, que é o lago Igapó, questiona Marcia Regina.
Foto: Joka Madruga