Claret Fernandes: “Bem vindos, camaradas!”
Bem-vindos, camaradas cubanos! Votos de que possam fazer bem à saúde do povo. Que façam bem, ainda, aos nossos sonhos! Por Antônio Claret Fernandes, militante do MAB e missionário na […]
Publicado 22/08/2013
Bem-vindos, camaradas cubanos! Votos de que possam fazer bem à saúde do povo. Que façam bem, ainda, aos nossos sonhos!
Por Antônio Claret Fernandes, militante do MAB e missionário na Prelazia do Xingu
Dois fatos me chamaram a atenção, hoje, um da subida do dólar, que bate à casa dos 2,45 em relação ao real, a maior cotação desde dezembro de 2008. A moeda, também, é uma questão de poder! Algumas poucas decisões do império Norte Americano, mais tinta verde e papel, são suficientes para impactar a moeda de todos os países emergentes. O Brasil sofre a pancada maior! A queda acumulada do real desde o início de 2013 é de 16,41%.
O caso do dólar parece mesmo sério! O presidente do Branco Central, Alexandre Tombini, cancela viagem ao exterior para acompanhar de perto, e pessoalmente, a instabilidade do câmbio, e o nervosismo do mercado.
Bons tempos em que se desmarcavam compromissos porque alguém corria risco de morte, num acidente, por exemplo. Hoje não! Em Belo Monte, um trabalhador acidentado ficou de 17 às 21 horas no chão, no canteiro de obra, coberto com uma lona. Seus companheiros foram obrigados a continuar trabalhando, passando por aquele corpo, estendido no chão, de um lado para outro. Ninguém chora, isso já faz parte do risco 4 assinado no momento do ingresso no emprego. Tucuruí teriam morrido trezentos trabalhadores. Um operário garantiu que, em Belo Monte, já morre um por mês. Mas ninguém sabe ao certo, pois muitos casos ficam escondidos, e os números são manipulados.
Quanto ao dólar, analistas dizem que pode haver pressão imediata sobre o preço da gasolina e sobre a tarifa de energia elétrica, ambas referenciadas pela moeda americana.
O capitalismo é assim, como um deus às avessas. Cria seus monstros, personifica-os e, depois, atribui-lhes a culpa pelo destino ingrato dos despossuídos de tudo e, por cima, ainda consegue acumular riqueza com a crise. No assanhamento ou na bonança do mercado, os capitalistas nunca perdem. Podem, quando muito, ganhar menos. A não ser quando a classe trabalhadora, explorada, a única que produz toda riqueza do mundo, acumula força e resolve mudar o jogo, com coragem e rebeldia.
Essa, aliás, é a segunda notícia! A revolução cubana, vitoriosa em 1º de janeiro de 1959, derrubando a ditadura de Fulgêncio Batista, continua dando bons resultados. O embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, embora crucial para a Ilha rebelde, não conseguiu estancar a sede de liberdade, e a força benéfica do socialismo para o povo cubano e para o mundo. Cuba envia, hoje, profissionais da medicina para mais de 60 países. Graças à reação do povo brasileiro, que resolvera sair às ruas, o Brasil, também, poderá, agora, beneficiar-se do processo exitoso da revolução cubana.
No capitalismo, a educação, a água, a religião, a saúde, a doença, tudo é mercadoria. Em diversas igrejas, reina a onda da teologia da prosperidade. Alguns profissionais sérios da área da medicina não entendem outra lógica senão a do mercado, pois no capitalismo nascemos, nos movemos e existimos. Conheço uma estudante de medicina gente boa que só vendo! -; ela vai terminar o curso no final de 2015 e conta, orgulhosa, que já está com seu consultório montado.
Esses profissionais misturados entre os que fazem da saúde um negócio, mas não por má fé, estão perdoados. Definitivamente, não são bandidos! Incorporaram o espírito do sistema vigente no país. Há, porém, uma verdadeira máfia que controla a indústria farmacêutica no Brasil e no Mundo. Esses são uns canalhas! Estão se esperneando, se mexendo. Claro! Não são idiotas! Eles não querem perder esse filé, cada vez mais promissor. Quando mais abandonado, mais doente ficar o povo, mais essa máfia lucra.
Em cidades do interior, principalmente, há profissionais da medicina que, apesar da estrutura extremamente precária, e da politicagem, exercem sua profissão com muita dignidade, e salvam vidas. Mas existem, também, os que fazem do povo, e até dos políticos, gato e sapato, chantageando, com exigências descabidas, não pensando no povo, mas em si mesmo. Em Altamira PA médicos chegaram a ganhar 100 mil reais/mês. Há os que se candidatam e vencem as eleições não por suas qualidades superiores, mas por causa da carência generalizada do povo.
Outro dia, passando por Guaraciaba MG, conversava com a mãe de Dayane, que faz medicina em Cuba pelo Movimento dos Atingidos por Barragens. Lourdinha, esse é o nome dela, dizia que o Curso de sua filha está com um ano de atraso. Isso porque sempre que tem alguma epidemia, contava, profissionais e estudantes deixam suas atividades e vão socorrer as pessoas. A saúde do povo é prioridade! Em Cuba, contava Dayane em outra ocasião, trabalhar na saúde é ajudar a cuidar do povo. Em qualquer país capitalista, a doença é uma oportunidade para alguém enricar-se e a carência do povo é uma valiosa moeda de troca.
Bom! Então essas são as duas notícias: de um lado, impérios econômicos que despejam dólar no mundo ou tira – e manipulam o mercado a seu favor e, de outro lado, uma ilhota de nada que salva vida em mais de 60 países.
Mas os cubanos estão chegando mesmo! São 400 em setembro, e 4 mil até o fim do ano. O governo brasileiro vai repassar recursos à Organização Pan-americana da Saúde, no valor de 10 mil por profissional. A OPAS, por sua vez, repassa o dinheiro ao governo cubano, que decidirá quanto o médico vai receber. Algo estranho para a lógica capitalista, viciada no negócio, mas normal num país socialista, educado no serviço à coletividade.
Bem-vindos, camaradas cubanos! Dois ficarão aqui, bem próximos a nós: um em Vitória do Xingu e outro em Altamira, cidades dramaticamente impactadas por Belo Monte. Precisamos de mais: bons profissionais e condições de trabalho.
Votos de que possam fazer bem à saúde do povo. Que façam bem, ainda, aos nossos sonhos! Desejo de que possamos ir aprendendo de vocês a utopia concreto de que é possível construir outra ordem social.