Atingidos por Candonga relembram expulsão de povoado
Centenas de policias expulsaram violentamente 14 famílias que resistiam no antigo povoado. O objetivo foi favorecer as empresas Vale e Novelis No dia 03 de maio de 2004, uma verdadeira […]
Publicado 10/05/2012
Centenas de policias expulsaram violentamente 14 famílias que resistiam no antigo povoado. O objetivo foi favorecer as empresas Vale e Novelis
No dia 03 de maio de 2004, uma verdadeira operação de guerra mobilizou mais de 200 policiais militares fortemente armados para expulsar 14 famílias que resistiam sair de São Sebastião do Soberbo, povoado que foi inundado pelo lago da usina hidrelétrica Risoleta Neves, conhecida como Candonga. As famílias esperavam que a Vale e a Novelis elevassem os valores das indenizações, que houvesse recomposição das terras perdidas e que aceitassem as reivindicações para que as novas casas construídas no reassentamento Novo Soberbo respeitassem as exigências dos moradores. A resposta do consórcio Candonga foi violenta. As famílias foram expulsas e a comunidade alagada sem que seus direitos fossem respeitados.
Para relembrar este dia trágico e cobrar a dívida social, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizou na última quinta-feira, 03 de maio de 2012, uma assembleia dos atingidos pela barragem de Candonga em Novo Soberbo. O protesto reuniu centenas de pessoas do reassentamento bem como atingidos de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado e de várias comunidades como Marimbondo, Santana do Deserto e Jerônimo.
Diversos depoimentos cobraram das autoridades e das empresas do Consórcio que cumpram com seus deveres e paguem a dívida com os atingidos. José Antônio, morador de Novo Soberbo, relembrou como foi o dia da expulsão, a violência policial, o desrespeito às leis. E denunciou: o consórcio tem uma grande dívida com o Soberbo que até hoje não teve sua reativação econômica realizada. Enquanto isso, as empresa mentem para o CEAS (Conselho Estadual de Assistência Social) dizendo que já fizeram tudo que tinham que ter feito.
Vilma, moradora de Rio Doce, cobrou terra para os que ficaram sem meio de sobrevivência por causa da barragem. Relembrou da violência policial que sempre foi uma forma do Consórcio intimidar as famílias, mas insistiu que os atingidos não vão desistir e continuarão em luta até receberem seus direitos.
João Caetano dos Santos: nove anos sem resposta
Muitos atingidos também voltaram a denunciar o descaso de empresas e autoridades em relação a João Caetano dos Santos, conhecido em toda a região como Gabundo. O atingido desapareceu na madrugada do dia 09 de fevereiro de 2003 dentro do canteiro de obras da OAS Ltda., construtora responsável pela barragem. Até hoje o corpo não foi encontrado e nenhuma explicação foi dada para o caso. “Este é mais um exemplo vergonhoso de como a Vale e Novelis demostram seu desprezo pela dignidade humana”, afirmou Thiago Alves, membro da direção estadual do MAB em Minas Gerais.
Presença da Polícia Militar
Embora fosse uma reunião pública e pacífica, a Polícia Militar de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado deslocou 12 soldados para acompanhar a atividade. Três viaturas foram mobilizadas. O constrangimento dos presentes era evidente, visto que o objetivo era intimidar os moradores. Um atingido denunciou que dias antes da reunião houve um boato na comunidade de que ninguém deveria ir à assembleia do MAB porque haveria violência.
Para Fernanda Oliveira Portes, membro da coordenação estadual do MAB, a presença dos policias não foi nenhuma surpresa visto a forma com que o Estado e o Consórcio Candonga tratam os atingidos. É vergonhoso que agentes de seguranças pagos com dinheiro do povo se prestem a se submeter aos mandos da Vale e da Novelis. Não há dúvida de que são elas que articularam para que houvesse aquele ambiente de constrangimento e opressão”, afirmou. Fernanda salientou que “a PM não tirou a força da Assembléia, que foi um dia luta de todos os atingidos pela hidrelétrica Risoleta Neves que permanecerão mobilizados em busca de seus direitos”.
Também participaram da assembleia diversos apoiadores da luta dos atingidos como o Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (NACAB), o Sindieletro, Sindicato dos Eletricitários da CEMIG, a Associação dos Pescadores e Amigos do Rio Piranga e representantes das Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) e do mandato do Deputado Federal Pe. João.