Acampamentos pressionam para a garantia dos direitos dos atingidos por barragens
As atividades da jornada de lutas em comemoração ao Dia Internacional de Luta contra as Barragens continuam pelo Brasil com acampamentos em vários estados. Nos locais em que os acampamentos […]
Publicado 16/03/2010
As atividades da jornada de lutas em comemoração ao Dia Internacional de Luta contra as Barragens continuam pelo Brasil com acampamentos em vários estados. Nos locais em que os acampamentos iniciaram no domingo e na segunda, hoje as atividades foram internas, com debates sobre análise de conjuntura e o modelo energético. Na BR 116, próximo à Lages/SC, os agricultores fizeram trancamentos durante esta tarde, eles pressionam para que sejam criados mecanismos de recuperação das comunidades atingidas pelas barragens da bacia do rio Uruguai.
Já em Rondônia são mais de 400 famílias que participam do acampamento montado no distrito de Porto Velho, Mutum Paraná. Os coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) estimam que para a assembléia que acontece amanhã este número aumentará, mesmo que a polícia esteja intervindo na chegada dos ônibus, como aconteceu hoje, com revista de todos os passageiros e utensílios que levaram.
Estaremos fazendo esta grande assembléia com o intuito de debater sobre os nossos direitos. Estamos vivendo um processo muito intenso de retirada dos moradores das comunidades e estamos apavorados, sem garantia nenhuma de que teremos as condições necessárias para a manutenção de nossas famílias, disse Cleide Passos, liderança da região. O MAB está negociando reuniões com as empresas estatais envolvidas na construção das duas barragens para tratar da pauta de reivindicações.
Os oito acampamentos organizados pelo MAB para a jornada do Dia Internacional de Luta contra as Barragens se mantém nesta quarta-feira. Em Altamira, as atividades de formação e debate se intensificaram nesta tarde.
Em Minas Gerais acampamentos serão permanentes
Os acampamentos de Minas Gerais que iniciaram no domingo se mantém com o aumento do número de participantes. Representantes do acampamento montado na barragem de Fumaça estiveram ontem em uma atividade na Universidade Federal de Viçosa dando depoimento sobre as condições de vida das famílias atingidas. Amanhã uma comissão irá participar de um debate sobre a Violação dos Direitos Humanos, na cidade de Mariana. O debate está sendo organizado pelo MAB, que convidou autoridades, entre elas prefeitos da região e o presidente da CNBB, arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha.
Os integrantes do MAB darão o depoimento sobre as graves violações sofridas antes, durante e depois da implantação de uma barragem. No caso da Usina de Fumaça, o MAB denuncia a falta de indenização, como aconteceu com dezenas de diaristas que receberam apenas R$ 38,00, ou então as mais de 1000 famílias que extraiam pedra sabão e ficaram sem emprego, já que as pedreiras estão submersas ou isoladas. Esta atividade tem mais de 200 anos na região e é de onde centenas de artesãos tiravam seu sustento. Agora estão sem condições de sobrevivência, denuncia Claret Fernandes, coordenador do MAB na região.
As denúncias sobre os prejuízos causados pela barragem de Aimorés são ainda maiores. De propriedade da CEMIG e da Vale, a barragem destruiu pelo menos duas cidades: Aimorés e Itueta. Aimorés, por exemplo, foi fundada a partir do Rio Doce. Com a construção da barragem, o rio foi desviado num trecho de 8 km, impedindo as principais atividades dos moradores que dependiam do rio para viver.
Já a cidade de Resplendor, situada no remanso da barragem, também se encontra em situação crítica, com problemas na rede pluvial e de esgoto, entre outros. Além disso, o Ibama aprovou o aumento da cota da barragem de 84 para 90 metros, sem um novo levantamento de Estudos de Impacto Ambiental, impactando mais terras e famílias. Isso é de uma irresponsabilidade muito grande de órgãos de proteção de meio ambiente. Temos muitos casos vergonhosos na construção de barragens em Minas Gerais e com estes acampamentos queremos denunciar essa situação. O acampamento de Fumaça será permanente, pois além de todas as perdas que tivemos, estamos à mercê da sorte. No entanto estamos dispostos à lutar para sermos indenizados e reassentados, declarou o coordenador do MAB na região.