Para atender regiões atingidas, MAB estrutura 10 cozinhas no Rio Grande do Sul

Além das refeições, força tarefa de movimentos sociais também está levando água potável para pessoas desabrigadas ou isoladas em diferentes bairros da cidade

Além da atuação na Cozinha Solidária do bairro Azenha, em Porto Alegre (RS), e do município de Arroio do Meio (RS), no Vale do Taquari, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) está planejando a instalação de cerca de 10 cozinhas solidárias no interior do estado, para atender os atingidos por uma das piores tragédias climáticas que a região sul já viveu. O maior desafio é o deslocamento até os territórios mais severamente afetados pelas fortes chuvas que caem no estado desde o último dia 26. Ao todo, os dados oficiais indicam 1,4 milhões de pessoas atingidas, 95 óbitos e 131 pessoas desaparecidas.

Atualmente, a Cozinha Solidária em que Movimento atua junto ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e à Periferia Feminista na capital gaúcha distribui cerca de 2000 marmitas. O trabalho conta com a ajuda de voluntários da cidade atuando em três turno e envolve a coleta de alimentos, a produção e a distribuição de marmitas para moradores de rua, em abrigos temporários e áreas atingidas, como os bairros Sarandi, Sertório e Lami, entre outros. A ideia agora é chegar aos municípios com situação crítica no interior.

“O rio ainda está muito alto, mas já estamos atuando no Vale do Taquari, onde os próprios atingidos se organizaram e estão montando as marmitas. Nosso foco principal agora é salvar vidas, levar água e comida também para as populações de Canoas e da região do Baixo Jacuí, que estão muito necessitadas. Tem gente espalhada por todos os lados aguardando ajuda. É absurdo o que estamos vivendo”, desabafa Alexânia Rossato, integrante da coordenação do MAB no Rio Grande do Sul. O risco de rompimentos de barragens também é um agravante em diversas regiões do estado.

Maria Aparecida Luge, uma das integrantes do MAB que está à frente da Cozinha Solidária de Porto Alegre, conta que tem muita gente disposta a ajudar, mas a situação em algumas regiões do estado segue desesperadora.

“A logística está muito difícil. Tem bairros da capital que não têm luz, não tem energia elétrica, não tem água, não tem ponte de acesso. No interior, tem cidades em que não sobrou uma casa. Além disso, o trânsito está impraticável para fazer as entregas das marmitas, porque muita gente está se deslocando para as praias. Também não tem gasolina, porque os caminhões de combustível não estão conseguindo chegar”, explica Luge.

Ela conta que, aos poucos, estão sendo feitas viagens com escoltas para levar água, medicamento e comida para as áreas mais isoladas. O que conseguimos fazer ainda é pouco, mas é importante. “O prato de comida que a gente oferece é um acalento, um abraço, um acolhimento, mas ainda precisamos de mais esforço do poder público para salvar as pessoas”, destaca a militante.

Municípios isolados

Mais de 73% dos municípios do estado foram atingidos pelas chuvas. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Diante desse cenário, a coordenação do MAB está convocando mais integrantes do Movimento para viajarem até o estado para reforçarem o trabalho de apoio aos atingidos quando for possível. “Estamos mobilizando militantes de outros estados para virem ao Rio Grande do Sul atuar nas cozinhas que serão instaladas em regiões que ainda estão isoladas e sem acesso terrestre. Mesmo com as dificuldades logísticas, estamos, nesse momento, buscando as condições necessárias para conseguir chegar até as comunidades que estão em situação mais crítica”, explica a dirigente.

Margareth Augustine, moradora do município de Roca Sales, foi uma das pessoas atingidas pelas enchentes. Segundo ela, houve muitos deslizamentos na cidade que condenaram as pessoas a saírem das suas casas, como no seu caso. Após sobreviver à tragédia, a moradora está, nesse momento, tentando resgatar vizinhos pelos telhados de casas isoladas.

“Estou ainda atuando, tirando pessoas de cima dos telhados, mas a situação não é boa. A conexão funciona de vez em quando, como agora, mas não temos internet regular, nem luz, nem água. As pessoas estão precisando de, pelo menos, uma cama seca para dormir de noite, precisando de água e de comida. Estamos sobrevivendo de poucas doações que às vezes alguns voluntários conseguem trazer, porque a ponte de Arroio do Meio, que dá acesso ao município, caiu”, explica a atingida.  

Antes e o depois na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS). Vídeo: MetSul

Também integrante da coordenação do MAB, Leonardo Magi conseguiu chegar ao Vale do Taquari para estruturar a Cozinha Solidária na região. “Nós estamos aqui na região organizando as cozinhas e a realocação do povo numa situação muito difícil, muito difícil mesmo. Não tem alojamento suficiente para todo mundo e os alojamentos que existem não têm luz, não têm água sequer para beber. O povo não está conseguindo se banhar desde o dia da enchente”, conta o coordenador. 

O povo já está há uma semana nessa situação e sem perspectiva de solução por parte do poder público. Então, precisamos fazer pressão para conseguir água e luz para o povo poder se manter nos alojamentos de forma decente”, complementa. Neste momento, 203,8 mil pessoas estão fora de suas casas — mais de 48,8 mil estão em abrigos e 155,7 mil estão nas casas de familiares ou amigos.

Negligência do estado

Nesse ano de 2024, o orçamento do Governo do Estado do Rio Grande do Sul para a compra de equipamentos da Defesa Civil foi de apenas R$ 50 mil. O primeiro mandato do Governador Eduardo Leite (PSDB) alterou 480 pontos do Código Ambiental de uma só vez. O orçamento do estado para 2024 prevê só 0,2% dos recursos no combate à crise climática. Isso significa que de R$ 83 bilhões do orçamento, só R$ 157 milhões estão em áreas ligadas à crise climática.

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